Artigo publicado em 01/08/2004 no Jornal de Jales (p. 1-10) edição n.º 2062. Tel: (17)3632-1330
Depois de duas gestações perfeitamente normais fiquei grávida pela terceira vez. Um bebe que não foi planejado, mas sua vinda inesperada foi imensamente comemorada. Porém, em novembro de 2003, então com 22 semanas de gestação, tivemos o diagnóstico: nosso filho sofria de anencefalia, isto significava que ele não sobreviveria após o nascimento. Aquela notícia caiu como uma bomba em nossas vidas. Mas ao invés de questionar e suas intenções e simplesmente ignorar aquela vida que crescia em meu útero, agarramos esta grande oportunidade que Deus estava nos dando e resolvemos continuar a gestação.
Acima de tudo amávamos nosso filho. Mas por que ? Porque não se joga fora um presente que é dado com imenso amor. Um presente que veio embrulhado em uma linda caixa, porém imperfeito, mas apesar de suas imperfeições, foi escolhido com cuidado, com amor que só um Pai que ama seus filhos pode dar. Eu aceitei essa bênção. Nosso filho foi e ainda é um presente. Um anjo enviado dos céus que apesar de sua breve estada nos deixou uma imensa lição. Foram sete meses e meio de gestação. Durante esse tempo que era praticamente o único que teria ao lado dele, procurei viver de forma intensa. Lembro-me de cada chute, de cada vez que ele se mexia dentro de mim. E não me arrependo disso. Foram sete meses e meio apenas, mas me serviram como uma vida toda ao lado dele. Sinto-me grata e feliz por ter optado pela vida, por ter amado meu filho com todo o amor que uma mãe pode dar.
Meu filho nasceu em 22 de dezembro de 2003, de cesariana. Nosso amado filho Luis Eduardo permaneceu vivo por uma hora e meia ainda. Seu pai ficou ao lado dele, pois eu estava sedada. Então mais uma vez ele foi acolhido e amado.
Hoje, após sete meses de sua chegada e partida, temos uma imensa saudade. Ele nos deixou o ensinamento do amor, da doação, da aceitação, da Fé e da absoluta confiança em Deus. Sou uma pessoa feliz, apesar da imensa falta que ele me faz. Sou feliz por não ter negado ao meu filho a breve vida à qual ele foi destinado. Sou feliz por Deus ter me escolhido para carregar em meu ventre um lindo anjo de sua seara.
Acredito que o aborto seja escolha de cada um e não cabe a mim ou a ninguém julgar essas escolhas, porém, qual o direito que temos de tirar uma vida que está ativa dentro do útero?
Desde o parto, eu participo de um grupo chamado “Mourning Mommies”, de ajuda mútua a mães que perderam seus filhos por anencefalia. A grande maioria delas levou a gestação a termo e até onde sei, todas se sentem gratificadas por isso, apesar da dor da perda… Todas se sentem gratificadas por terem compartilhado dos poucos instantes de vida de seus filho …
Agradeço a você, meu filho Luis Eduardo, por tudo de bom que você nos deixou como lembrança.
Agradeço senhor Deus, por ter nos carregado em seus braços e nos dado forças para superar toda essa dor.
Milene Falcão